Foi a recomendação do papa Francisco logo no título da sua mensagem para o Dia Mundial dos Pobres. Solidariedade, generosidade, precisam-se. Deixamos uma sugestão no fim.

 

“Vivemos tempos conturbados…” é um lugar-comum que não deve anestesiar-nos, para nos sentirmos dispensados de dar conta dos problemas que afectam outros, despojando-os até da sua dignidade humana. Ao contrário, somos chamados a agir para os resolver ou minorar, sem esquecer que Jesus «revelou estar presente nos seus irmãos mais frágeis». «Toda a pessoa, mesmo a mais indigente e desprezada, traz gravada em si mesma a imagem de Deus», diz o Papa.  Já antes, Francisco denunciou a globalização da indiferença, a atitude de ignorar os dramas dos outros, «como se tudo fosse uma responsabilidade de outrem, que não nos incumbe»  (Evangelii gaudium, 54).

Neste ano de 2020, em que todos os povos se debatem com a pandemia de covid-19, que tem feito a pobreza alastrar, multiplicam-se os conflitos armados e guerras latentes, a que acrescem os ataques terroristas. Por tudo isto, não param de aumentar os fluxos de refugiados e deslocados, que deixam tudo para trás para sobreviver ou procuram melhores condições de vida. «Em cada um deles, está presente Jesus, forçado – como no tempo de Herodes – a fugir para Se salvar», fez notar o Papa por ocasião do Dia Mundial do Migrante e do Refugiado. Apresentou então seis binómios atitude-acção, aliando dois verbos em cada, explicando-os como causa e efeito: conhecer para compreender; aproximar-se para servir; para reconciliar-se, escutar; para crescer, partilhar; coenvolver para promover; colaborar para construir.

A culminar estas reflexões, a parábola do juízo final, no evangelho do domingo de Cristo Rei: tive fome, deste-me de comer; tive sede, deste-me de beber; era peregrino, recolheste-me; estava nu, deste-me que vestir; adoeci, visitaste-me; estive na prisão, foste ter comigo (Mt 25, 31-46). É que na balança pesará a forma como tratámos os outros. Como disse Frei Fabrizio, da Unidade Pastoral Franciscana de Marvila, «na parábola do juízo final, encontramos o protocolo da entrada no Reino, com a certeza de que o amor aos pobres é o nosso passaporte para o Céu».

A terminar, vem a propósito apresentar a campanha “Cabo Delgado quer paz”, promovida pelo Mensageiro de Santo António, que é membro da Rede Cuidar da Casa Comum. Os ataques terroristas selváticos, que estão a causar morte e destruição no Norte de Moçambique, têm empurrado centenas de milhares de pessoas para longe das suas casas e meios de vida e causaram uma situação de emergência humanitária de grandes proporções. Pode ouvir aqui o testemunho do bispo de Pemba (Cabo Delgado, Moçambique), D. Luiz Fernando Lisboa, que participou recentemente num dos Diálogos com António 2020, cujo tema era “Ninguém fica para trás”. A campanha decorre até 17 de Janeiro.

A generosidade que apoia o vulnerável, consola o aflito, mitiga os sofrimentos, devolve dignidade a quem dela está privado, é condição para uma vida plenamente humana. A opção de prestar atenção aos pobres, às suas muitas e variadas carências, não pode ser condicionada pelo tempo disponível ou por interesses privados, nem por projetos pastorais ou sociais desencarnados.

(Mensagem do Papa para o Dia Mundial dos Pobres 2020)

 

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