Propomos alguns textos que ajudam a centrarmo-nos no Tempo da Criação. Transcrevemos apenas uns excertos para aguçar a curiosidade.
Em cada sugestão que se segue, damos apenas “um cheirinho” do artigo, e basta clicar sobre o título para ir dar ao texto na íntegra.
No Ponto sj, no mês de Agosto, encontrámos alguns textos que são uma inspiração, para escolher rotas e fazer opções, e para compreender quanto está em jogo e é da nossa responsabilidade.
“A marca das nossas férias”, um texto de Pedro Franco, chama a atenção para a pegada que deixamos pela vida que fazemos, a qual é, em parte, fruto das nossas escolhas: «Não devemos supor que o nosso impacto não conta», diz. «O ser humano, por onde quer que passe, deixa a sua marca, afeta as relações sociais».
As nossas férias também podem ser um sinal do estilo de vida e do mundo que queremos. Não há um botão off do impacto das minhas escolhas. As minhas férias podem ser mais ecológicas se eu integrar estes critérios nos meus planos desde o começo, desde as minhas motivações. […] Quando imagino as minhas férias, o meu desejo é de descanso e de partilha ou de consumo e alheamento?
“Alterações Climáticas – novas urgências, maior exigência”, da autoria de Luísa Schmidt, insta-nos a tomar a sério as alterações climáticas e a planear «mudanças necessárias no nosso modo de vida», antes que as consequências fiquem fora de controle.
Está tudo em xeque com as alterações climáticas, mas o que está sobretudo em causa é a vida humana. Ela é a principal e a mais complexa das vulnerabilidades – aquela onde convergem mais fatores e a partir da qual se geram outros problemas: migrações climáticas forçadas, conflitualidade política, doenças, contaminações… Num mundo interdependente, os problemas virão sempre bater à porta de todos sem escapatória. Por isso, é preciso agir à escala global mas também às escalas nacional e local. […]
O grande desafio é mesmo o da mudança rápida e inevitável, queiramos ou não. E mais vale querer porque ou decidimos mudar, ou será o clima a impor contra nós as mudanças que não soubermos fazer agora. O preço de não agir imediatamente será demasiado caro para todos os que cá estamos e para as gerações que queremos ver nascer e crescer com esperança.
“Cuidar do ambiente: uma questão moral?” é o título de mais um artigo muito oportuno, este assinado por Margarida Pessoa Vaz. Ainda que o tema da crise climática pareça tornar-se banal e haja catadupas de informação e opiniões divergentes que pouco esclarecem os leigos na matéria, «não precisamos de ser cientistas para sabermos que os recursos da natureza são finitos e para avaliarmos grande parte dos modelos de produção e consumo vigentes como insustentáveis». Então, a autora sugere uma abordagem da qual ressalta uma responsabilidade pessoal que não permite esquivas, seguindo o olhar proposto pelo papa Francisco na Laudato Si’ e na Fratelli Tutti.
Podemos começar com o nosso coração. Trabalhando a nossa humildade, crescendo na consciência de que não somos proprietários dos recursos naturais e reconhecendo as limitações dos ecossistemas. […]
Se a Terra é casa comum, então, a forma como nos relacionamos com a natureza é indissociável aos conceitos de fraternidade e justiça. […] Este sair da própria bolha e amar mais, não só o que nos são próximos, mas todos, exige tempo e esforço.
[…] Esta transformação pessoal nos pequenos gestos «faz parte duma criatividade generosa e dignificante, que põe a descoberto o melhor do ser humano».
«Passamos o tempo a distribuir culpas»
Para pensarmos, durante o Tempo da Criação, qual deverá ser o nosso papel, o que é nossa responsabilidade, nos tempos críticos que vivemos, vem mesmo a propósito este excerto das palavras do papa Francisco no Angelus de 29 de Agosto:
Muitas vezes pensamos que o mal vem sobretudo de fora: do comportamento dos outros, daqueles que pensam mal de nós, da sociedade. Quantas vezes culpamos os outros, a sociedade, o mundo, por tudo o que nos acontece! É sempre culpa dos “outros”: é culpa das pessoas, dos que governam, da má sorte, e assim por diante. Parece que os problemas vêm sempre de fora. E passamos o tempo a distribuir culpas; mas passar o tempo a culpar os outros é perder tempo. Fica-se zangado, azedo, e mantém-se Deus longe do coração. Como aquelas pessoas do Evangelho, que se queixam, se escandalizam, fazem polémicas e não acolhem Jesus. Não se pode ser verdadeiramente religioso na lamentação: ela envenena, leva à raiva, ao ressentimento e à tristeza, a tristeza do coração, que fecha as portas a Deus.
Programa Ecclesia sobre Tempo da Criação
Uma entrevista que, mais do que ler, vale bem a pena ouvir foi a do programa Ecclesia (RTP 2) de 30 de Agosto, com João Luís Fontes, da REDE, e Catarina Sá Couto, da Igreja Lusitana-Comunhão Anglicana. A notícia encontra-se aqui, e a entrevista pode ser seguida aqui.
Tempo da Criação: A Casa Comum Precisa de Todos
No âmbito da colaboração da REDE com a Mesa Redonda – Missão onlife dos Padres Vicentinos, este mês é José Varela que fala do Tempo da Criação. Explica, nomeadamente, que o tema deste ano é “Uma Casa para Todos? Renovando o Oikos de Deus” e o logotipo é a tenda de Abraão, a evocar o episódio do Patriarca que acolhe três viajantes que eram afinal três anjos:
O logotipo […] pretende simbolizar o apelo ecuménico desta celebração para “praticar o cuidado da criação como um ato de hospitalidade radical” – afirmando que há espaço para todas as criaturas na Casa Comum – e também de simplicidade, já que a tenda permite “viver apenas com o necessário e viajar sem peso pelas terras”.
Para responder ao apelo à mudança não há um caminho predefinido: «É necessário, sim, que cada pessoa e instituição possa discernir qual o caminho a que se sente chamado.» Nesse sentido, foi concebida a Plataforma de Ação Laudato Si, que nos próximos anos vai orientar e enquadrar diferentes dinâmicas para pôr em prática uma ecologia integral
No final do Tempo da Criação, a Plataforma de Ação Laudato Si, lançada pelo Vaticano este ano, irá começar a disponibilizar planos para apoiar os percursos de famílias, comunidades e diversos tipos de entidades rumo à ecologia integral, a desenvolverem-se em sete anos. A diversidade de setores abrangidas por estas propostas permite que, na prática, qualquer pessoa ou instituição possa assumir o seu compromisso inscrevendo-se no site da Plataforma.
Saber aprender – A rezar com a criação
Sempre sobre o Tempo da Criação, diz Miguel Oliveira Panão, no seu mais recente artigo no portal da Ecclesia:
Creio que este tempo vai para além das iniciativas pró-ambiente e atinge a nossa vida profunda. Essa vida pauta-se pela nossa união com Deus que passa pela manifestação da Sua presença na natureza que nos rodeia. Quando interiorizarmos esta essência serão muitos os horizontes de significado que se abrem diante de nós e nos darão a esperança para lidar e ultrapassar os tempos difíceis que se avizinham.
Lembra mais adiante que «somos chamados a rever o nosso estilo de vida e a amadurecer a ligação entre a vida ecológica e a vida espiritual». E aqui revela-se a importância da oração e ganha sentido que rezemos com a criação:
Rezar é uma experiência fundamental no percurso que fazemos de união com Deus. É o momento em que, mediante as nossas condições de possibilidade, procuramos entrar em diálogo com Ele. […] quando rezamos com a criação, por exemplo, através de um pôr-do-sol, nada fazemos. Estamos, simplesmente. Por isso, fico a pensar se o que aprendemos mais quando rezamos com a criação não será, essencialmente, a saber estar e acolher.