Os recursos constituem o motor de toda a sociedade humana. Assumem, mesmo, a base de toda a vida possível. Os seres humanos não conseguem assegurar a sua subsistência sem terem, pelo menos, um teto para se abrigar, roupa para se vestir e comida para se alimentar. Da mesma forma, as sociedades têm necessidade de ser “alimentadas” por componentes extraídos da natureza, para assegurarem uma vida digna aos seres humanos que compõem essas mesmas sociedades e uma certa estabilidade social e política, que são necessárias à paz.
Atualmente, erguem-se vozes para denunciar a progressiva escassez de recursos disponíveis. Algumas pessoas falam do pico convencional da produção petrolífera que teria sido excedido já no decorrer dos anos 2000. Outros relembram que, em cada ano, ultrapassamos, cada vez mais cedo, “o dia da exaustão da Terra” – dia 2 de agosto, em 2017 – ou seja, o dia, em que “a humanidade já consumiu, nesse ano, todos os recursos que a Terra tem capacidade para renovar num ano”. Outros, ainda, salientam o esgotamento previsto de alguns minerais “estratégicos” para o sistema de desenvolvimento industrial.
O que se passa realmente? As sociedades avançam, de facto, para a falta de recursos essenciais? Trata-se de uma inevitabilidade? Esta constatação implica transformações económicas e políticas profundas?
A nossa intuição, ao realizar este estudo, é que os limites com que nos confronta o nosso planeta nos convidam a desencadear verdadeiras ruturas culturais. Mais do que reformas simples visando corrigir um sistema que consideramos doente, estas mudanças requerem uma transformação da nossa relação com o mundo, com a natureza ou mesmo com o nosso conceito de felicidade.
[Do texto de apresentação de um estudo da Comissão Justiça e Paz da Bélgica, publicado em janeiro de 2018; original aqui – tradução de Maria Fortunata Dourado]