Este ano o lema foi “Protejamos as nossas espécies”. Assistimos hoje à maior taxa de extinção de espécies desde que se extinguiram os dinossauros há mais de 60 milhões de anos.

Foi o que disse a Rede Dia da Terra, das Nações Unidas, a justificar a escolha do tema de 2019, com o enfoque nas espécies e na biodiversidade. Só há dez anos a ONU instituiu, em 22 de Abril, o Dia Internacional da Mãe Terra, o qual passou a ser assinalado com acções pedagógicas e de sensibilização, por todo o mundo.

Mas o Dia da Terra teve início em 1970. 22 de Abril foi pela primera vez dedicado à defesa da Terra e do meio ambiente, por iniciativa de um senador norte-americano, Gaylord Nelson, preocupado com os efeitos de um gigantesco derramamento de petróleo ocorrido em Santa Bárbara, Califórnia, no ano anterior. Convocou um protesto que mobilizou milhares de estudantes universitários e o movimento expandiu-se a partir de então.

A Zero , além de apelar a ações de preservação da biodiversidade em Portugal, sublinha «a necessidade de a Humanidade viver em harmonia com o Planeta, visto que dele provêm todos os recursos que sustentam as sociedades e a economia».

O ar, a água, o solo, os recursos minerais, etc., são dádivas que enquanto Humanidade temos estado a desperdiçar e desrespeitar, na procura de obter ganhos de curto prazo, cada vez mais concentrados num conjunto ínfimo de pessoas. Um exemplo claro é o de no presente necessitarmos de cerca de 1,5 planetas para suportar o nosso modelo de produção e consumo, isto quando apenas uma parte da Humanidade faz uso dos recursos naturais.

E a ONG lança um alerta sério, baseado em dados preocupantes: «Se não agirmos agora, a extinção pode ser o legado mais duradouro da humanidade.» Faz notar que em Portugal há ainda um «conhecimento insuficiente dos seus valores naturais», e deposita uma esperança particular nos cidadãos, defendendo uma mobilização de todos e de cada um a começar nas escolhas pessoais e indo até à participação em campanhas globais.

Um artigo do El Pais (22 abr. 2019), traduzido na revista IHU on-line, cita Donald Falk, professor de Ecologia na Universidade do Arizona, que ilustra bem a problema do desaparecimento das espécies: “As espécies são como tijolos na construção de um prédio. Podemos perder uma ou duas dúzias de tijolos sem a casa balançar, mas se 20 por cento das espécies desaparecerem, toda a estrutura se desestabiliza e entra em colapso. É assim que funciona um ecossistema”.

Ainda a propósito do Dia da Terra, dizia Abel Coentrão no Público que «não há tempo para festejar», mas o mundo parece assobiar para o lado:

O retrato destes 50 anos, publicado há poucas semanas no documento Global Resources Outlook 2019. Natural Resources for the Future We Want, mostra que, apesar dos avisos do movimento ambientalista, reforçados, nas últimas décadas, por dados alarmantes e estudos científicos de previsões catastróficas, e apesar também das sucessivas cimeiras de onde saem compromissos para uma mudança de atitude global, o mundo segue em modo business as usual, e que muito pouco mudou.

E aponta algumas questões específicas:

  • O problema está no modelo económico linear que tem servido de base ao crescimento do planeta desde a revolução industrial.
  • Mas há também um problema de distribuição destes recursos.
  • Várias organizações mundiais insistem na necessidade de uma evolução para um modelo económico circular, que prolongue ao limite o tempo de vida dos produtos que

Concluindo: «Este esforço – que depende muito de uma mudança de estilos de vida nos países mais desenvolvidos e da capacidade de os países em desenvolvimento saltarem algumas etapas (ao nível da transição energética, por exemplo) – poderia trazer algumas boas notícias a outros 22 de Abril lá mais para a frente.»

Matilde Alvim, que foi uma das promotoras da Greve Climática Estudantil em Portugal, pergunta: «Quantos mais Dias da Terra serão precisos?» Neste artigo, dá conta do pouco que se fez nos 49 anos desde o primeiro Dia da Terra, e termina:

Agora, o paradigma parece começar a sofrer alguns abalos. Lentamente, traça-se o caminho para descarbonizar e mudar o rumo da catástrofe ambiental. Mas estes são planos que deveriam ter sido feitos quando a semente plantada era ainda um pequeno rebento e a crise climática tinha ainda muita margem de manobra. Hoje, a semente lançada pelo primeiro Dia da Terra, há 50 anos, é já uma árvore corpulenta de respeitados movimentos ambientalistas. E sabemos algo de muito claro: ou mudamos radicalmente agora, ou sofreremos um ponto de não retorno daqui a 12 anos.

O movimento da greve às aulas pelo clima, impulsionado por Greta Thunberg, parece ser o culminar destes 50 anos numa luta que demasiadas vezes se mostra ingrata. E, por isso, neste Dia da Terra de 2019, temos a certeza de que, se em 50 anos as vozes foram quase que ignoradas e a crise climática agravada, iremos lutar com tudo o que podemos para que os últimos 12 anos sejam, por fim, os anos da mudança radical de paradigma. Se não agora, para quando? Decerto não podemos dar-nos ao luxo de aguardar mais meio século.

Por fim, sugerimos um teste sobre O que está Portugal a fazer pelo ambiente.

 

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