O papa Francisco escreveu uma carta sucinta e apelativa. Juntámos-lhe uns artigos que reflectem sobre o que pode acontecer e o que se deve ou não fazer.
Carta do papa Francisco no Dia Mundial do Ambiente
O Papa enviou uma carta ao Presidente da Colômbia, país que seria palco da celebração do Dia Mundial do Ambiente, não fosse a pandemia e suas restrições. Com palavras muito directas, Francisco afirma:
A proteção do meio ambiente e o respeito pela biodiversidade do planeta são temas que dizem respeito a todos nós. Não podemos pretender ser saudáveis num mundo doente. As feridas causadas à nossa mãe terra são feridas que também sangram em nós. O cuidado dos ecossistemas necessita de um olhar de futuro, que não se fique apenas pelo imediato, procurando um lucro rápido e fácil; um olhar cheio de vida e que busque a preservação em benefício de todos.
Depois de mais uma vez reprovar a avidez e a ganância que saqueiam e violentam o Planeta, O Papa repete o apelo de sempre:
Está em nós a possibilidade de inverter a marcha e apostar num mundo melhor, mais saudável, para deixá-lo como herança às gerações futuras. Tudo depende de nós, se realmente desejamos.
Termina com um desafio à sua maneira, para construirmos «um mundo cada vez mais habitável e uma sociedade mais humana, onde todos caibam e não fique ninguém de fora».
Convido-os também a participarem do ano especial que anunciei para refletir à luz desse documento [Laudato Si’]. E assim, todos juntos, tormarmos mais consciência do cuidado e proteção da nossa casa comum, assim como dos nossos irmãos e irmãs mais frágeis e descartados da sociedade.
Outras duas opiniões sobre escolhas para o futuro
Transcrevemos uns parágrafos significativos e fica o link para os artigos completos:
“E agora, já estamos prontos para ter esta conversa?”, de João Assunção, 5 de Junho de 2020
«A actual pandemia fez-nos recordar a óbvia, mas negligenciada, constatação de que não somos uma comunidade global de super-heróis resistentes a todas as ocorrências registadas no meio que nos rodeia, com um germe, não especialmente mortal, a ser capaz de criar uma crise planetária, quebrando as nossas rotinas inatacáveis. Não desprezando a resposta complexa que a covid-19 exige, devemos pensar como será a actuação caótica à crise ambiental esperada, quando a disponibilidade de água potável reduzir drasticamente em vários pontos do globo, o clima colocar em causa as nossas hortas mundiais e iniciarem migrações em massa para os oásis restantes do planeta, subitamente tão pequeno para albergar tanta gente. […]
Entendamo-nos: os países desenvolvidos não estão sozinhos no mundo. Na penumbra do globo ignorado, existem milhões de indivíduos a desesperar por solidariedade. Caso não a tenham, seremos também nós a desesperar no futuro, porque, se ainda não notámos, o ar que respiramos é o mesmo, o mar que nos circunda é o mesmo, os recursos que permitem a sobrevivência são os mesmos, a Terra é a mesma.
Não esperemos um futuro em que a SpaceX consiga transportar os mais afortunados para uma colónia marciana, enquanto os restantes agonizam aqui, num mundo estragado. Tentemos manter este. Para isso, é necessário colocar, finalmente, em xeque o modelo esgotado que nos regula e definir como prioritário o equilíbrio e igualdade entre os Estados. Esta transformação só será viável com a solidariedade dos países ricos espelhada na reforma estrutural de organizações internacionais, como a ONU e a OMC, o que, claramente, depende da consciencialização das populações para a importância de construir uma ordem mundial mais justa e igualitária. Se estes princípios não bastarem, tenha-se, então, em conta a experiência traumática que vivemos actualmente, parcialmente demonstrativa do futuro dantesco que teremos se não actuarmos de forma contundente na origem da problemática.»
“A pandemia é só nossa, a Natureza não”, de Miguel Dantas da Gama
«Múltiplos estudos e pareceres de peritos e científicos de que também a Wilder tem dado eco, apontam o homem como o causador desta pandemia que apenas contra nós se abateu. A progressiva destruição da natureza, reduzindo, fragmentando, aniquilando ecossistemas e habitats e encurralando os seres vivos que deles fazem parte, o comércio e o consumo de espécies selvagens, o desrespeito pela diversidade das comunidades de vida selvagem, pela forma como evoluíram nas diferentes regiões da Terra, tudo facilitado por uma globalização sem controlo, aceleraram a vida progressivamente mais artificial e desligada da natureza que continuamos a levar, concentrados em grandes aglomerados urbanos onde nos rodeamos de animais de companhia, subservientes e em muitos casos obrigados a um confinamento perpétuo.
Apesar dos avisos, cada vez mais sérios, que nos alertam não apenas para o risco de outras pandemias potencialmente mais perigosas e incontroláveis, mas principalmente para as consequências das alterações climáticas, […] estamos ávidos por voltar aos mesmos vícios de que não queremos abdicar. Consumir, consumir mais, volta a ser a palavra de ordem para o regresso à “normalidade”.»