A mensagem do papa Francisco para o 1.º de Janeiro de 2019, Dia Mundial da Paz, fala-nos, em sete tópicos, da boa política que está ao serviço da paz, mas também promove a ecologia integral.

Foto: diocese de Sete Lagoas, Brasil

Jesus, ao enviar os seus para o mundo recomendou-lhes que em toda a casa em que entrassem começassem por anunciar a paz: “A paz esteja nesta casa!”. Diz o Papa:

A “casa”, de que fala Jesus, é cada família, cada comunidade, cada país, cada continente, na sua singularidade e história; antes de mais nada, é cada pessoa, sem distinção nem discriminação alguma. E é também a nossa “casa comum”: o planeta onde Deus nos colocou a morar e do qual somos chamados a cuidar com solicitude.

Citando Charles Péguy, Francisco compara a paz a uma flor a querer desabrochar e sublinha a importância das atitudes de construir a cidadania e de serviço à colectividade humana. “Se alguém quiser ser o primeiro – diz Jesus – há de ser o último de todos e o servo de todos” (Mc 9, 35). Francisco lembra que o político está mandatados para “servir o seu país, proteger as pessoas que habitam nele”, mas igualmente lhe cabe “trabalhar para criar as condições dum futuro digno e justo” e, “animado pela caridade”, contribuir para edificar a “cidade universal de Deus […] para onde caminha a história da família humana”. Em suma, “a boa política está ao serviço da paz; respeita e promove os direitos humanos fundamentais, que são igualmente deveres recíprocos, para que se teça um vínculo de confiança e gratidão entre as gerações do presente e as futuras”.

Já no ponto 4, o Papa lamenta os vícios por demais conhecidos, “vergonha da vida pública”, incluindo entre eles a “recusa a cuidar da Terra” e a “exploração ilimitada dos recursos naturais em razão do lucro imediato”. Como que a contrabalançar, o tópico seguinte respeita aos jovens, aos quais há que apoiar os “talentos juvenis e as vocações que requerem a sua realização, […] no reconhecimento dos carismas e capacidades de cada pessoa”.

Cada um pode contribuir com a própria pedra para a construção da casa comum. A vida política autêntica, que se funda no direito e num diálogo leal entre os sujeitos, renova-se com a convicção de que cada mulher, cada homem e cada geração encerram em si uma promessa que pode irradiar novas energias relacionais, intelectuais, culturais e espirituais.

Evocando o centenário do fim da I Guerra Mundial, Francisco observa que “a paz não pode jamais reduzir-se ao mero equilíbrio das forças e do medo” e lembra em particular as crianças que vivem em zonas de conflito. Recomenda ainda:

Deve-se reafirmar que a paz se baseia no respeito por toda a pessoa, independentemente da sua história, no respeito pelo direito e o bem comum, pela criação que nos foi confiada e pela riqueza moral transmitida pelas gerações passadas.

Antes de terminar, o Papa apresenta linhas-mestras de “um grande projecto de paz”, as quais podem igualmente ser guias para uma ecologia integral, que deste modo aparece indissociável de uma boa convivência de toda a humanidade, sem excluir ninguém:

  • A paz é fruto dum grande projeto político, que se baseia na responsabilidade mútua e na interdependência dos seres humanos;
  • mas é também um desafio que requer ser abraçado dia após dia;
  • e é uma conversão do coração e da alma.

Das três dimensões da paz – consigo mesmo, com o outro e com a criação –, esta última experienciaremos “descobrindo a grandeza do dom de Deus e a parte de responsabilidade que compete a cada um de nós, como habitante deste mundo, cidadão e actor do futuro”. Tal como a política da paz, conforme diz o papa Francisco, se pode inspirar no Magnificat, também se apreende melhor a razão de ser da conversão ecológica meditando este belo cântico de Maria.

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