O excerto que apresentamos de uma reflexão de Luciano Manicardi dá-nos uma perspectiva muito pertinente que associa discernimento do hoje e responsabilidade.

Nas reflexões que nos apresenta sobre a liturgia dominical*, Luciano Manicardi, prior da comunidade de Bose, parte do episódio do Dilúvio e da atitude de Noé (evangelho do I domingo do Advento, ano A) para estabelecer uma relação entre o discernimento na leitura dos sinais e a responsabilidade. Recomenda assim que sacudamos a apatia de apenas viver as rotinas e que atendamos ao que nos cerca, assumindo a responsabilidade de cuidar, cuidar da casa comum no seu todo.

O evangelho, instituindo um paralelo entre o dilúvio, que perturba a quotidianidade repetitiva da vida da geração de Noé, e a vinda do Filho do Homem, adverte para que não nos afoguemos na banalidade dos dias. A geração de Noé não é descrita por Jesus como malvada ou ímpia, mas simplesmente como inconsciente: “Não se aperceberam de nada” (Mt 24,39). A geração de Noé pereceu por falta de discernimento. E, assim, pereceu duas vezes: no dilúvio e em não saber porquê. Noé, pelo contrário, soube discernir e, desse modo, salvou-se a si próprio e ao futuro: o discernimento do hoje salva o futuro. E esta é a responsabilidade. A culpa, se de culpa se pode falar, que se entrevê no nosso texto é, portanto, a irresponsabilidade, a ausência de discernimento.

“Vigiar” significa exercitar a inteligência, a reflexão, o pensamento sobre os tempos que se vivem, para não se ser surpreendido por catástrofes que se preparam de modo oculto no tempo presente, na Igreja, nas relações familiares e pessoais. O crente é chamado a pensar e conhecer o hoje a partir da vinda do Senhor e das suas dimensões de impensável e de ignorado (cf. Mt 24,36.44).

* Luciano Manicardi, Comentário à liturgia dominical e festiva – ano A, 2019, Paulinas Editora.

 

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