«A pobreza é um escândalo. Sim, a pobreza é um escândalo», repetiu o papa Francisco na homilia deste Dia Mundial dos Pobres, sem dúvida para abanar a «sociedade atarefada e distraída».
O tema proposto para este dia em 2023 foi extraído do livro de Tobite (Tb 4, 7) mas o versículo é mais longo: «Nunca afastes de algum pobre o teu olhar, e nunca se afastará de ti o olhar de Deus». Na sua mensagem, Francisco faz notar que, «quando nos deparamos com um pobre, não podemos virar o olhar para o lado oposto, porque nos impediríamos a nós próprios de encontrar o rosto do Senhor Jesus». O Papa dá-nos neste texto outras pistas que desafiam a uma reflexão mais aprofundada, pois «envolver-se pessoalmente é a vocação de todo o cristão».
A propósito desta data o programa Ecclesia conversou com a irmã Júlia Barroso, da Associação Santa Teresa de Jesus – Dignidade e Desenvolvimento, que explicou como algumas irmãs vivem em bairros sociais como “vizinhas entre vizinhos”, fomentando a criação de grupos de desenvolvimento comunitário e apostando especialmente em combater o abandono escolar dos jovens. A entrevista pode ser vista na íntegra aqui.
Por sua vez, Fundação Gonçalo da Silveira tem «uma lente pedagógica para ajudar a compreender os fenómenos da pobreza e seus efeitos», através de um conjunto de recursos pedagógicos; estudos, documentários e indicadores, que pretendem levar as pessoas a conhecer, a reflectir e a agir sobre a pobreza e as desigualdades. Este tipo de formação e sensibilização é «cada vez mais urgente no momento histórico que não favorece a atenção aos mais vulneráveis», como bem salientou o Papa.
Em entrevista ao 7Margens na Antena 1, ouvimos Eugénio Fonseca, presidente da Confederação Portuguesa de Voluntariado e ex-presidente da Caritas, que conhece bem a realidade da pobreza em Portugal, defender, entre outros aspectos analisados, que são precisas vontade política e determinação para obter resultados consistentes no combate à pobreza, «que não descola das medidas avulsas».
Ainda no 7Margens, José Centeio assina o artigo “Envolver-se pessoalmente é a vocação de todo o cristão”, em que começa por explicar porque faz mais sentido que haja um dia dos pobres, e não da pobreza. Apresenta dados sobre a realidade portuguesa que deixam desconforto e fazem pensar seriamente no que há a fazer e na intervenção que nos cabe, não podendo ignorar o alerta sério que J.C. deixa: «Há algo no discurso sobre a pobreza e, de modo muito particular, sobre a procura de soluções para a sua erradicação, que é não apenas ilusório como também contribui para que sobre o problema a sociedade não tenha uma consciência crítica que possibilite uma verdadeira transformação.»
Frei Bento Domingues, na sua habitual crónica no Público, liga a parábola dos talentos, do evangelho deste domingo, à do juízo definitivo, que se lhe segue em Mateus 25, e explica que a última «dá sentido ao desenvolvimento das capacidades e recursos individuais».
«No texto, é a própria História universal que vai a julgamento», continua. E cita aquela sentença que nos é familiar – Em verdade vos digo. Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes – para concluir: «Nesta parábola, o que nos julga é o bem ou o mal que fazemos ou deixamos de fazer, seja a quem for. É a pessoa necessitada que é sagrada […] é o próprio Deus que se identifica com as pessoas que precisam de ajuda.»