Na sua mensagem neste IV dia de oração pela criação, o Papa dá graças ao Senhor pelo dom da casa comum e também por todos os que se empenham em aprender e concretizar um modo de viver no cuidado da criação. Diz-nos, no seu modo simples e directo: Devemos reconhecê-lo: não soubemos proteger a criação com responsabilidade. A situação ambiental, quer a nível global, quer em muitos lugares específicos, não pode ser considerada satisfatória. Com razão, surgiu a necessidade de uma relação renovada e saudável entre a humanidade e a criação, a convicção de que apenas uma visão do homem autêntica e integral nos permitirá cuidar melhor do nosso planeta para o benefício das gerações presentes e futuras, pois “não há ecologia sem uma adequada antropologia” (LS 118). Este ano, Francisco traz para o centro desta celebração a questão da água e, voltando a citar a encíclica Laudato Si’ a propósito do direito humano essencial de acesso à água potável e segura, lembra a “grave dívida social para com os pobres que não têm acesso à água potável, porque isto é negar-lhes o direito à vida radicado na sua dignidade inalienável” (LS 30). O papa Francisco fala depois da água e da sede na espiritualidade cristã e no que isso implica em “escolhas concretas e compromisso constante”: Para nós cristãos, a água é um elemento essencial de purificação e de vida. O pensamento vai imediatamente para o Batismo, sacramento do nosso renascimento. A água santificada pelo Espírito é a matéria pela qual Deus nos vivificou e nos renovou; é a fonte abençoada de uma vida que não morre mais. O Batismo representa também, para os cristãos de diferentes confissões, o ponto de partida real e indispensável para viver uma fraternidade cada vez mais autêntica no caminho da plena unidade. Jesus, durante a sua missão, prometeu uma água capaz de saciar para sempre a sede do homem (cf. Jo 4,14), e profetizou: “Se alguém tem sede, venha a mim e beba” (Jo 7,37). Ir a Jesus, beber d’Ele significa encontrá-Lo pessoalmente como Senhor, haurindo da sua Palavra o sentido da vida. Que possam ressoar em nós com força as palavras que Ele pronunciou na cruz: “Tenho sede” (Jo 19, 28). O Senhor continua a pedir para ser saciado na sua sede, pois tem sede de amor. Ele pede-nos para Lhe darmos de beber nos muitos sedentos de hoje, para então nos dizer: “Eu estava com sede e destes-me de beber” (Mt 25,35). Dar de beber, na aldeia global, não envolve apenas gestos pessoais de caridade, mas escolhas concretas e compromisso constante de garantir a todos o bem primário da água. Além das fontes e bacias hídricas, também os mares e oceanos precisam do nosso cuidado urgente e eficaz. Há que não esquecer que Deus “acompanha constantemente a sua criação”, o que não nos dispensa, porém, da responsabilidade de a proteger, do desafio de alcançar uma “cooperação eficaz entre os homens de boa vontade para colaborar na obra contínua do Criador”. Assim, diz ainda Francisco, que “para essa emergência somos chamados a comprometer-nos, com uma mentalidade activa, rezando como se tudo dependesse da Providência divina e agindo como se tudo dependesse de nós”. O Papa propõe-nos ainda uma série de intenções, começando por “que as águas não sejam um sinal de separação entre os povos, mas de encontro para a comunidade humana” e incluindo uma referência particular às jovens gerações, para terminar com um desejo-proposta a todas as comunidades cristãs: “contribuam cada vez mais concretamente para que todos possam usufruir desse recurso indispensável, no cuidado respeitoso dos dons recebidos do Criador, em particular dos cursos de água, mares e oceanos”.

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