A paz é um caminho de esperança, que se faz através do diálogo, da reconciliação e da conversão ecológica – é a reflexão que nos propôs o papa Francisco este ano.

Na sua mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2020, Francisco retoma o discurso que fez na visita ao Japão, para afirmar que «a paz e a estabilidade internacional […] são possíveis só a partir duma ética global de solidariedade e cooperação ao serviço dum futuro modelado pela interdependência e a corresponsabilidade na família humana inteira de hoje e de amanhã». E não «pendente sobre o abismo nuclear e fechado dentro dos muros da indiferença, onde se tomam decisões socioeconómicas que abrem a estrada para os dramas do descarte do homem e da criação, em vez de nos guardarmos uns aos outros».

O Papa faz recomendações profundas e exigentes:

  • O desejo de paz está profundamente inscrito no coração do homem e não devemos resignar-nos com nada de menos.
  • Devemos procurar uma fraternidade real, baseada na origem comum de Deus e vivida no diálogo e na confiança mútua.
  • A paz é uma construção que «deve estar constantemente a ser edificada» [Gaudium et spes, 78], […] até ao ponto de reconhecer no inimigo o rosto dum irmão.
  • O outro nunca há de ser circunscrito àquilo que pôde ter dito ou feito, mas deve ser considerado pela promessa que traz em si mesmo.

O ponto 4. incide sobre a conversão ecológica

«Se às vezes uma má compreensão dos nossos princípios nos levou a justificar o abuso da natureza, ou o domínio despótico do ser humano sobre a criação, ou as guerras, a injustiça e a violência, nós, crentes, podemos reconhecer que então fomos infiéis ao tesouro de sabedoria que devíamos guardar» [Laudato si’ 200].

Vendo as consequências da nossa hostilidade contra os outros, da falta de respeito pela casa comum e da exploração abusiva dos recursos naturais – considerados como instrumentos úteis apenas para o lucro de hoje, sem respeito pelas comunidades locais, pelo bem comum e pela natureza –, precisamos duma conversão ecológica.

O Sínodo recente sobre a Amazónia impele-nos a dirigir, de forma renovada, o apelo em prol duma relação pacífica entre as comunidades e a terra, entre o presente e a memória, entre as experiências e as esperanças.

Este caminho de reconciliação inclui também escuta e contemplação do mundo que nos foi dado por Deus, para fazermos dele a nossa casa comum. De facto, os recursos naturais, as numerosas formas de vida e a própria Terra foram-nos confiados para ser «cultivados e guardados» (cf. Gn 2, 15) também para as gerações futuras, com a participação responsável e diligente de cada um. Além disso, temos necessidade duma mudança nas convicções e na perspetiva, que nos abra mais ao encontro com o outro e à receção do dom da criação, que reflete a beleza e a sabedoria do seu Artífice.

De modo particular brotam daqui motivações profundas e um novo modo de habitar na casa comum, de convivermos uns e outros com as próprias diversidades, de celebrar e respeitar a vida recebida e partilhada, de nos preocuparmos com condições e modelos de sociedade que favoreçam o desabrochar e a permanência da vida no futuro, de desenvolver o bem comum de toda a família humana.

Por conseguinte a conversão ecológica, a que apelamos, leva-nos a uma nova perspetiva sobre a vida, considerando a generosidade do Criador que nos deu a Terra e nos chama à jubilosa sobriedade da partilha. Esta conversão deve ser entendida de maneira integral, como uma transformação das relações que mantemos com as nossas irmãs e irmãos, com os outros seres vivos, com a criação na sua riquíssima variedade, com o Criador que é origem de toda a vida. Para o cristão, uma tal conversão exige «deixar emergir, nas relações com o mundo que o rodeia, todas as consequências do encontro com Jesus» [Laudato si’ 217].

Antes de terminar, Francisco recomenda persistência, com a certeza de que temos Deus por nós.

  • O caminho da reconciliação requer paciência e confiança. Não se obtém a paz, se não a esperamos.
  • A cultura do encontro entre irmãos e irmãs rompe com a cultura da ameaça. Torna cada encontro uma possibilidade e um dom do amor generoso de Deus.
  • A graça de Deus Pai oferece-se como amor sem condições.
  • Dia após dia, o Espírito Santo sugere-nos atitudes e palavras para nos tornarmos artesãos de justiça e de paz.

Mensagem na íntegra aqui.

 

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