Anunciada pelo Papa a 1 de setembro, saiu uns dias depois a mensagem conjunta do patriarca ecuménico Bartolomeu, do papa Francisco e do arcebispo de Cantuária, Justin Welby.

 

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Com um título simples – “Uma mensagem conjunta para o cuidado da criação” –, o texto é uma exortação a protegermos o Planeta e empenharmo-nos em dar melhores condições de vida aos mais pobres e desprotegidos. O Criador escuta o clamor da Terra e o clamor dos pobres. Depois da dura experiência da pandemia, que teve efeitos devastadores em todo o mundo, no último ano e meio, compreendamos que não há tempo para hesitar, é preciso arrepiar caminho:

Temos de decidir que tipo de mundo queremos deixar às gerações futuras. Deus ordena: “Escolhe, pois, a vida, para que tu e a tua descendência vivam” (Dt 30,19 ). 

Neste Tempo da Criação e em vésperas da cimeira de Glasgow, os três líderes religiosos são directos:

Exortamos todos, seja qual for a sua fé ou cosmovisão, a tentar ouvir o clamor da terra e dos pobres, examinando o seu próprio comportamento e comprometendo-se a fazer sacrifícios significativos pelo bem da terra que Deus nos deu.

Mais à frente, sublinham a importância da sustentabilidade:

O conceito de guarda – de responsabilidade individual e colectiva pelo dom que Deus nos deu – constitui um ponto de partida essencial para a sustentabilidade social, económica e ambiental.

E recomendam que se procure «ter uma visão mais ampla e reconhecer o nosso lugar na longa história da humanidade.»

A natureza é resiliente, mas delicada. Já estamos a testemunhar as consequências da nossa recusa em protegê-la e preservá-la (Gn 2, 15). Agora, neste momento, temos a oportunidade de nos arrepender, de resolver dar meia-volta, de seguir na direcção oposta. Devemos buscar generosidade e justiça na maneira como vivemos, trabalhamos e usamos o dinheiro, em vez de ganhos egoístas.

A mensagem destaca o impacto nas pessoas que vivem com pobreza e chama-nos à responsabilidade perante a injustiça gritante. Alerta também para a gravidade dos fenómenos extremos, o que reclama medidas urgentes:

Enfrentamos uma injustiça profunda: as pessoas que sofrem as consequências mais catastróficas de tais abusos são as mais pobres do planeta e as que têm menos responsabilidade por causá-los. Servimos a um Deus de justiça, que se deleita na criação e cria cada pessoa à sua imagem, mas que também escuta o clamor dos pobres. Consequentemente, há um chamamento inato dentro de nós para responder com angústia quando vemos uma injustiça tão devastadora.

[…] as alterações climáticas não são apenas um desafio futuro, mas também uma questão imediata e urgente de sobrevivência.

Por último, os signatários, Bartolomeu, Francisco e Justin, vincam bem a preocupação, que os levou a dirigirem-se em uníssono a todos, cristãos, crentes, pessoas de boa vontade – quem quer que sejamos e onde quer que estejamos: «Esta é a primeira vez que nós três nos sentimos compelidos a abordar juntos a urgência da sustentabilidade ambiental, o seu impacto na pobreza persistente e a importância da cooperação global.»

O imperativo da cooperação

Durante a pandemia, aprendemos como somos vulneráveis. Os nossos sistemas sociais entraram em colapso e descobrimos que não podemos controlar tudo. Devemos reconhecer que a maneira como usamos o dinheiro e organizamos as nossas sociedades não beneficiou todos. Damos por nós fracos e ansiosos, mergulhados numa série de crises: sanitária, ambiental, alimentar, económica e social, todas profundamente interligadas.

Essas crises apresentam-nos uma escolha. Estamos na posição nunca vista de decidir se as enfrentaremos com falta de visão e especulando ou se as consideraremos uma oportunidade de conversão e de transformação. Se pensarmos na humanidade como uma família e trabalharmos juntos por um futuro baseado no bem comum, podemos vir a  encontrar-nos a viver em num mundo muito diferente. Juntos, podemos compartilhar uma visão da vida em que todos prosperam. Juntos, podemos optar por agir com amor, justiça e misericórdia. Juntos, podemos caminhar para uma sociedade mais justa e gratificante, centrada nos mais vulneráveis.

Mas isso envolve fazer mudanças. Cada um de nós, individualmente, deve assumir a responsabilidade pelo modo como são usados os nossos recursos. Este caminho exige uma colaboração cada vez mais estreita entre todas as Igrejas no compromisso de cuidar da criação. Juntos, como comunidades, igrejas, cidades e nações, devemos mudar de rumo e descobrir novas formas de trabalharmos juntos para quebrar as barreiras tradicionais entre os povos, parar de competir pelos recursos e começar a colaborar.

Aos que têm maiores responsabilidades ‒ à frente de administrações, na gestão de empresas, contratação de pessoal ou aplicação de fundos ‒ dizemos: escolham lucros centrados nas pessoas; façam sacrifícios de curto prazo para salvaguardar os futuros de todos nós; tornem-se líderes na transição para economias justas e sustentáveis. «A quem muito foi dado, muito será pedido» (Lc 12,48).

Esta é a primeira vez que nós três nos sentimos compelidos a abordar em conjunto a urgência da sustentabilidade ambiental, seu impacto na pobreza persistente e a importância da cooperação global. Juntos, em nome das nossas comunidades, apelamos ao coração e à mente de cada cristão, de cada crente e de cada pessoa de boa vontade. Oramos pelos nossos líderes que se vão reunir em Glasgow para decidir o futuro de nosso planeta e seus habitantes. Mais uma vez, lembramos a Escritura: “Escolhe então a vida, para que tu e a tua descendência vivam” (Dt 30,19). Escolher a vida significa fazer sacrifícios e praticar o comedimento.

Todos nós ‒ quem quer que sejamos e onde quer que estejamos ‒ podemos desempenhar um papel na mudança da nossa resposta colectiva à ameaça sem precedentes das alterações climáticas e da degradação ambiental.

Cuidar da criação de Deus é um imperativo espiritual que exige uma resposta comprometida. Este é um momento crítico. O futuro dos nossos filhos e da nossa casa comum depende dele.

O texto integral da mensagem, traduzida para português, encontra-se aqui.

 

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