Devemos-lhe, sem dúvida, chamar-lhe “fundadora”, reconhecendo que foi a grande impulsionadora desta iniciativa, a que tanto se entregou nos dois últimos anos de vida.
Hoje faz um ano que Manuela Silva nos deixou e não é fácil dizer quanto lhe devemos nem como a recordação de tantos momentos que partilhámos se transforma numa grande vontade de levar por diante esta proposta de caminho que lhe era tão cara, e que ela própria nos confiou quando se sentiu mais debilitada. Entre nós, na comissão executiva, quando sentimos que nos saímos bem no que empreendemos, imaginamos o seu sorriso contente, a encorajar-nos ainda.
A Rede Cuidar da Casa Comum inspira-se desde a sua génese na Carta encíclica Laudato si’, sobre o cuidado da casa comum. Partiu de uma reflexão partilhada nuns encontros da Fundação Betânia, no verão de 2017, em que sobressaiu como era importante e urgente aprofundar a mensagem do Papa e agir, contrariando o marasmo a que se assistia na própria Igreja Católica. A Manuela empenhou-se, com aquela determinação que lhe era tão própria, e começou a delinear um esboço da Rede, contagiando os outros à sua volta. Ela própria fez inúmeros contactos e, ao fim de umas semanas, um primeiro grupo de entidades e pessoas em nome individual afirmaram a sua concordância com os objectivos e primeiras linhas de acção e aderiram à iniciativa. Em 13 de Novembro de 2017, nascia a rede Cuidar da Casa Comum.
Perto de cumprir três anos de existência, esta rede, que se caracteriza pela sua informalidade, vive do compromisso e empenho dos seus membros. Vemo-nos simplesmente como cristãos e pessoas de boa vontade, movidos pelo desejo de responder ao apelo do papa Francisco, que nos disse:
O Criador não nos abandona, nunca recua no seu projecto de amor, nem Se arrepende de nos ter criado. A humanidade possui ainda a capacidade de colaborar na construção da nossa casa comum. Desejo agradecer, encorajar e manifestar apreço a quantos, nos mais variados sectores da actividade humana, estão a trabalhar para garantir a protecção da casa que partilhamos. (LS, 13)
Também inspiradoras são as palavras que, quando a Rede dava os primeiros passos, escreveu Manuela Silva (dez. 2017) em Resiliência Criatividade Beleza (p. 121):
Eu acredito que há razões para ter esperança, embora saiba que a esperança não se confunde com certeza; é, tão-só, uma porta entreaberta, que, acompanhada das suas duas irmãs, a fé e a caridade, na bela imagem de Charles Péguy, nos permite caminhar, sem excessivos temores, em direcção ao futuro.
Mas o trecho que se segue deixa-nos um sorriso enternecido, porque a Manuela o escreveu (maio 2009) a pensar noutras pessoas, mas é a ela que assenta como uma luva:
Há pessoas cuja presença é, por si mesma, um feixe de luz que irradia, tanto para os lugares onde habitam como para as outras pessoas à sua volta. São pessoas com quem nos sentimos bem. Delas nos vem inspiração e energia para conduzirmos a nossa própria vida. Com elas, intuímos realidades que estão para além daquelas que os nossos olhos vêem ou as nossas mãos tocam. Junto delas nos sentimos como gente que é reconhecida, acolhida e amada. (Ouvi do Vento, p. 192)
Rita Veiga