Este título já indica a abordagem e abrangência do artigo que o padre Armindo dos Santos Vaz, membro da Comissão de Apoio Teológico e Científico, nos oferece, numa linguagem acessível e que prende a atenção da primeira à última página. Desafia-nos com estas palavras iniciais:
A encíclica do Papa Francisco Laudato si’ abriu um alargado e prolongado debate que envolve o social, o religioso e a própria Bíblia. A sua estimulante proposta não tem só alcance político mas também ético e espiritual, qual ponte entre a contemplação e a acção. Mostra que a espiritualidade projecta luz na solução dos problemas do ambiente, ligando a natureza com a comunidade humana. É uma “ecologia integral”.
E vai-nos guiando numa releitura de textos da Escritura que inspiram uma espiritualidade da criação. Passo a passo, mergulhamos na poesia entranhada nessa narrativa não linear de revelação de Deus e do próprio homem no contexto da criação, da “natureza inteira, contemplada não só como criada, mas também como envolvida no plano amoroso e salvífico de Deus”.
A arte literária e a força significante do mito têm o condão de levar o leitor das narrativas bíblicas de criação a sonhar com a utopia de um admirável mundo impoluto, como saído das mãos de Deus. A ecologia global será mais bem-sucedida se os seus agentes formarem um pensamento humanizado e humanizador, sustentado pela visão global e harmónica do universo, contida nas narrativas de criação. Elas contribuem para formar uma consciência de responsabilidade humana e de respeito admirado pela integridade do mundo: compreendendo-se como relacionado com Deus na sua origem, o ser humano, hoje como em nenhuma outra geração, tem mais razões para cultivar uma paz activa com o mundo em que mora. […] A utopia mantém alta a chama da procura de mais qualidade de vida e de melhor convivência com a natureza; faz descer à Terra a dimensão do Céu.