A CIDSE publicou recentemente um documento estratégico em que sublinha a urgência de acção e de que se estabeleça um novo paradigma: The Climate Urgency: Setting Sail for a New Paradigm. Em português: PT-A Urgência das Alterações Climáticas – Rumo a um novo paradigma.

Para fazer frente às alterações que já se fazem sentir, com graves consequências para muitas populações por todo o mundo, a CIDSE alerta para a inevitável mudança de paradigma, em particular no que toca a energia e à alimentação, o que implica rever estilos de vida, para conter o aumento da temperatura global média em 1,5º C.

Do Sumário Executivo destacamos alguns excertos :

Este relatório visa explorar como uma mudança de paradigma nos nossos sistemas de alimentação e energia – apoiados em mudanças estruturais de estilo de vida e societais – podia contribuir grandemente para limitar a subida da temperatura global média a 1,5ºC sem depender de tecnologias de emissões negativas (NET, sigla inglesa) ou de geoengenharia.

A CIDSE afirma que a transformação só pode ser alcançada através de uma mudança de paradigma. Precisamos de uma sistema diferente no seu todo. Isto requer novas narrativas, uma abordagem cultural diferente – que ponha a suficiência no seu centro – e, claro, transformar os nossos sistemas políticos e económicos, afastando-nos do destrutivo imperativo de crescimento em torno do qual gira o presente sistema. Os argumentos e visão da CIDSE para um novo paradigma baseiam-se em valores como a ecologia integral, a justiça e a boa governação, como definidos também pelo Magistério Social da Igreja e na encíclica Laudato Si’. Equidade, responsabilidades comuns mas diferenciadas, bem como envolvimento e participação das comunidades nos processos de tomada de decisão, são alguns dos princípios que devem estar no âmago da mudança necessária.

As alterações climáticas são a ponta do iceberg de um sistema em falência e resolvê-lo em conjunto com outras crises requer coragem política e esforços que não podem ser adiados por mais tempo.

E ainda da Conclusão:

As alterações climáticas estão a acontecer agora e as decisões que estamos a tomar hoje, e as que tomaremos na próxima década, definirão o destino da sociedade como um todo.

Pensar que tudo se resolve com progresso económico só reforça a nossa já sabida incapacidade de não fazer frente às alterações climáticas.

[Precisamos de] uma nova narrativa económica e política que nos dê espaço para repensar os padrões de consumo e de produção, levando em conta as nossas responsabilidades comuns, mas diferenciadas.

 

Acção Climática para o Bem Comum – Reflectir os princípios da Laudato Si’ na nossa resposta transformadora à crise climática

Mas já em Novembro de 2017 a CIDSE publicou um autêntico guia para fazer reflectir os princípios da Laudato Si’ numa resposta integral às alterações climáticas. Este documento – Acção Climática para o Bem Comum – contém uma introdução em que apresenta o contexto das alterações climáticas, seguindo-se duas secções bem esquematizadas sobre princípios e orientações, que desembocam numa conclusão.

O tempo para encontrar soluções globais está a acabar. Só podemos encontrar soluções adequadas se agirmos juntos e de comum acordo. Portanto, existe um imperativo ético para agir, claro, definitivo e improrrogável. (Papa Francisco à Conferência das Partes da UNFCCC, dez. 2014)

E aqui ficam uns tópicos para abrir o apetite:

Da Introdução:

As directrizes deste relatório capacitam os membros da família católica global para que se envolvam nos planos climáticos dos seus governos e ajudem a adaptar os princípios da Laudato Si’.

Não combateremos as alterações climáticas se não cuidarmos dos factores sociais, económicos e políticos que conduzem ao nosso actual caminho de desenvolvimento, pondo-nos em conflito com a estabilidade do planeta de que dependemos. No centro deste problema está a necessidade da nossa própria transformação cultural e espiritual, “a consciência duma origem comum, duma recíproca pertença e dum futuro partilhado por todos” (LS 202).

Os princípios subjacentes à Laudato Si’:

  • dignidade humana e qualidade de vida;
  • interligação e ecologia integral;
  • bem comum e o destino universal dos bens;
  • opção preferencial pelos pobres;
  • diálogo e participação;
  • solidariedade e justiça;
  • mudança e esperança.

Orientações fundamentais para uma resposta integral às alterações climáticas seguindo os princípios da LS:

  • deve ajudar a combater a pobreza e a reforçar os direitos humanos;
  • deve corresponder à dimensão do problema;
  • considerar o ambiente como um todo;
  • avançar pelo diálogo e ser participativa, inclusiva e democrática a todos os níveis;
  • promover uma visão equitativa para uma transição justa;
  • incentivar uma dimensão pessoal e espiritual para o bem comum.

E para cada uma destas orientações apontam-se passos concretos.

Concluindo:

Laudato Si’ do papa Francisco é um profundo e exigente apelo à acção. Ele apresenta uma avaliação rigorosamente honesta da nossa crise global e uma exortação moralmente vigorosa a uma resposta. O Papa afirma claramente: “Espero que esta Carta Encíclica, que se insere no magistério social da Igreja, nos ajude a reconhecer a grandeza, a urgência e a beleza do desafio que temos pela frente.” Ele procura as “raízes da situação actual, de modo a considerar não apenas os seus sintomas, mas também as causas mais profundas” (LS 15). Em última análise, o Santo Padre põe em causa o nosso imprudente caminho de desenvolvimento, fortemente emaranhado em tecnologia, as estruturas desiguais de poder e o enfraquecimento das relações entre nós e com a natureza. O Papa apela a uma conversão ecológica e a um compromisso renovado de desenvolvimento para o bem comum. Para aqueles que estão a prosperar com a manutenção do status quo e que prezam as suas posições de conforto e poder, a Encíclica é um sério alarme. Mas, para os restantes, é uma promessa oportuna e encorajadora de que a mudança é possível e de que há motivos para a esperança.

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