O papa Francisco foi muito directo e incisivo nas palavras que dirigiu, no dia 9 de Junho, aos dirigentes de empresas do sector da energia, reunidos em Roma no simpósio “Transição energética e cuidado da casa comum”. Reconhece que é necessária uma “enorme quantidade de energia para todos”, mas logo acrescenta:
A qualidade do ar, o nível dos mares, a consistência das reservas de água doce, o clima e o equilíbrio de ecossistemas delicados não podem deixar de ser afetados pelas modalidades com que os seres humanos saciam a sua “sede” de energia, infelizmente com graves desigualdades.
Para saciar esta “sede” não é lícito aumentar a verdadeira sede de água, nem a pobreza e nem sequer a exclusão social. A necessidade de ter à disposição quantidades crescentes de energia para o funcionamento das máquinas não pode ser satisfeita ao preço de envenenar o ar que respiramos. A necessidade de ocupar espaços para as atividades humanas não pode ser satisfeita de modo a colocar em sério perigo a existência da nossa e das demais espécies de seres vivos na Terra.
E, mais adiante recomenda “uma estratégia global” perante o que chama “um desafio epocal”, pedindo empenho particular “a favor de um melhor acesso à energia dos países mais vulneráveis” e que se acelere “o desenvolvimento sustentável de energias renováveis”. Refere ainda os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, bem como o Acordo de Paris, subscrito por 196 países e exclama: “A civilização requer energia, mas o uso da energia não deve destruir a civilização!”
Francisco fala ainda da “equidade intergeracional”, de “finanças verdes”, de a transição energética ser “cada vez mais urgente”. E lembra que “são os pobres que sofrem em maior medida por causa das devastações do aquecimento global, com as crescentes perturbações no campo agrícola, a insegurança da disponibilidade de água e a exposição a graves eventos meteorológicos”.
Pede “uma maior consciência de que todos nós fazemos parte de uma única família humana”, devendo cultivar essa “unidade fundamental que ultrapassa todas as diferenças” e a “solidariedade universal e intergeracional”, pois é preciso “um projeto comum a longo prazo que invista hoje para construir o amanhã”: “Os problemas ambientais e energéticos já têm um impacto e uma dimensão global. Por isso, exigem respostas planetárias, procuradas com paciência e diálogo, e perseguidas com racionalidade e constância.” Retomando algumas reflexões da Laudato Si’, o Papa fala de “um ser humano novo” e de “uma nova forma de liderança”, para terminar pedindo aos empresários que o escutavam que usassem a sua competência profissional “ao serviço de duas grandes fragilidades do mundo de hoje: os pobres e o meio ambiente”.
Não há tempo a perder: recebemos a Terra do Criador como uma casa-jardim; não a transmitamos às gerações futuras como um lugar selvagem.