As mensagens do Papa por ocasião do Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação deixam sempre “pistas” para um caminho que leve à ecologia integral.

Desde 2015, quando determinou que a Igreja Católica se unia aos ortodoxos e outras Igrejas cristãs  num  dia especial para rezar pela criação, Francisco dá-nos sempre coordenadas que apontam passos a dar para uma ecologia integral.

Naquele primeiro ano, na carta aos cardeais Peter Turkson (Conselho Justiça e Paz) e Kurt Koch (Promoção da Unidade dos Cristãos), depois de citar a encíclica Laudato si’:

Falta-lhes[aos cristãos], pois, uma conversão ecológica, que comporta deixar emergir, nas relações com o mundo que os rodeia, todas as consequências do encontro com Jesus. Viver a vocação de cuidadores da obra de Deus não é algo de opcional nem um aspecto secundário da experiência cristã, mas parte essencial duma existência virtuosa (Ls’ 217),

o Papa recomendou o dia de oração pela criação como «oportunidade para renovar a adesão pessoal à própria vocação de cuidadores da criação, elevando a Deus o agradecimento pela obra maravilhosa que Ele confiou ao nosso cuidado, invocando a sua ajuda para a protecção da criação e a sua misericórdia pelos pecados cometidos contra o mundo em que vivemos».

No ano seguinte, Francisco sublinhou o carácter ecuménico desta celebração e de todo o Tempo da Criação. Como decorria então o Jubileu da Misericórdia, lembrou como os nossos estilos de vida e o consumismo nos tornam participantes de um sistema que busca compulsivamente o lucro, mesmo causando cada vez mais exclusão social e destruição da natureza. Por isso, aconselhou arrependimento, dando uma garantia: «Deus é maior do que o nosso pecado, do que todos os pecados, incluindo os pecados contra a criação.» Nesta mensagem havia recomendações expressas para que zelássemos em particular pelos que mais sofrem com a crise actual, nomeadamente:

  • escutemos «tanto o clamor da terra como o clamor dos pobres»;
  • o planeta continua a aquecer e «as mudanças climáticas contribuem também para a dolorosa crise dos migrantes forçados»;
  • «a “dívida ecológica” entre o Norte e o Sul do mundo».

E a reflexão culminou na proposta de  uma nova obra de misericórdia:

Tomo a liberdade de propor um complemento aos dois elencos de sete obras de misericórdia, acrescentando a cada um o cuidado da casa comum.

Como obra de misericórdia espiritual, o cuidado da casa comum requer «a grata contemplação do mundo», que «nos permite descobrir qualquer ensinamento que Deus nos quer transmitir através de cada coisa». Como obra de misericórdia corporal, o cuidado da casa comum requer aqueles «simples gestos quotidianos, pelos quais quebramos a lógica da violência, da exploração, do egoísmo» e se manifesta o amor «em todas as ações que procuram construir um mundo melhor» [cf. Ls 214, 85, 230 e 231].

Para Setembro de 2017, o Papa e o patriarca ortodoxo, Bartolomeu, assinaram uma mensagem conjunta, que deixa patente pontos essenciais em que se unem todos os cristãos e, partindo de um mesmo olhar sobre a realidade, faz sugestões exigentes, que apelam à responsabilidade, à solidariedade e a fazer o bem. Do muito que nos dão que pensar, eis uns excertos, insuficientes:

  • A terra foi-nos confiada como dom sublime e como herança, cuja responsabilidade todos compartilhamos até que, “no fim”, todas as coisas no céu e na terra sejam restauradas em Cristo (cf. Ef 1, 10).
  • O ambiente humano e o ambiente natural estão a deteriorar-se conjuntamente, e esta deterioração do planeta pesa sobre as pessoas mais vulneráveis.
  • Um dos objetivos da nossa oração é mudar o modo como percebemos o mundo, para mudar a forma como nos relacionamos com o mundo.
  • Estamos convencidos de que não poderá haver uma solução genuína e duradoura para o desafio da crise ecológica e das mudanças climáticas, sem uma resposta concertada e coletiva, sem uma responsabilidade compartilhada e capaz de prestar contas do seu agir, sem dar prioridade à solidariedade e ao serviço.

No ano passado, a mensagem de Francisco centrava-se no tema da água, «elemento simples e precioso», e, a partir dela, referia questões sociais muito sérias, que requerem a atenção e solidariedade de todos. Mas a água é também símbolo, com significados profundos que o Papa aponta remetendo para todas as Escrituras.

Eis alguns destaques para reflexão:

  • surgiu a necessidade de uma relação renovada e saudável entre a humanidade e a criação, a convicção de que apenas uma visão do homem autêntica e integral nos permitirá cuidar melhor do nosso planeta para o benefício das gerações presentes e futuras, pois «não há ecologia sem uma adequada antropologia» (Carta Enc. Laudato si’, 118).
  • o acesso à água potável e segura é um direito humano essencial, fundamental e universal, porque determina a sobrevivência das pessoas e, portanto, é condição para o exercício dos outros direitos humanos.
  • É sugestiva a imagem utilizada no início do Génesis, em que se diz que nas origens o espírito do Criador «pairava sobre as águas» (Gn 1,2).
  • A água é símbolo de: purificação; vida; Baptismo; renascimento.
  • Jesus, durante a sua missão, prometeu uma água capaz de saciar para sempre a sede do homem (cf. Jo 4,14), e profetizou: «Se alguém tem sede, venha a mim e beba» (Jo 7,37).
  • «Eu estava com sede e…»
  • Dar de beber, na aldeia global, não envolve apenas gestos pessoais de caridade, mas escolhas concretas e compromisso constante de garantir a todos o bem primário da água.
  • hoje uma responsabilidade imperiosa, um desafio real: é necessária uma cooperação eficaz entre os homens de boa vontade para colaborar na obra contínua do Criador
  • rezando como se tudo dependesse da Providência divina e agindo como se tudo dependesse de nós.

No site, encontram-se alguns textos que partilham reflexões (1, 2, 3, 4, 5) baseadas na mensagem do Papa de 2018.

 

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