A Europa pretende ter uma agricultura verde e sustentável, mas isso não chega. Pode afinal estar a causar efeitos perversos além-fronteiras, recaindo sérias responsabilidades sobre a UE.

Plantação de soja

Recentemente, mais de seis centenas de cientistas de organizações europeias assinaram uma carta pedindo à União Europeia para repensar seu acordo comercial com o Brasil. Laura Kehoe, investigadora da Universidade de Oxford, que lançou a iniciativa da carta, afirma: “A Europa importa uma grande quantidade de matéria-primas ligadas ao desmatamento.” O da Amazónia cresceu 54 por cento em 2018, segundo dados de uma ONG brasileira. “A Europa fez grandes avanços. Mas, muitas vezes, esses avanços ocorreram à custa de outros países e outros povos”, acrescentou Kehoe.

Como se explica num artigo da IHU, baseado numa reportagem da BBC News Brasil, uma das maiores causas do actual desmatamento é o aumento da produção de soja, que vem alimentar o gado europeu. Segundo dados da Comissão Europeia, a UE importa cerca de 14 milhões de toneladas de soja por ano para fabricar rações para animais. Quatro países sul-americanos produzem hoje metade da soja que é comercializada no mundo, quando, há 50 anos, ficavam pelos três por cento. Aconteceu que, em muitos lugares, a vegetação nativa desapareceu, substituída pela soja.

Há casos em que se encadeiam as consequências desastrosas, culminando em graves questões sociais, explica Tiago Reis, investigador brasileiro da Universidade Católica de Louvain, na Bélgica. Para além da contaminação com agroquímicos, cresce «a especulação imobiliária, a violência e a expulsão de comunidades indígenas».

Os cientistas lembram que as negociações da Europa com o Mercosul são uma boa oportunidade para que a UE exija mais garantias relativamente ao respeito pelos direitos humanos e pelo meio ambiente. O consumo ético começa com as “condições sociais e salariais justas para agricultores e empregados”, como observou Martin Wassen, da Universidade de Utreque (Holanda).

 

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